terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

CRISES NO SPORTING 2 - EMPURRÃO FINAL


CONTINUAÇÃO 2





O "Manifesto" de Dias da Cunha, que preconizava trazer o poder político para a regulação do negócio futebol, foi o pretexto para a ruptura interna que sucedeu no final da época 2004/05.



Com a alegação de que não concordavam com uma pretensa subserviência ao Benfica, Miguel Ribeiro Teles demitiu-se como vice-presidente, com a área do futebol, Filipe Soares Francos demitiu-se de vice-presidente da SAD, Carlos Freitas, director-desportivo, e Rita Figueira, directora jurídica, sairam da SAD, embora esta última tenha ficado com uma avença.



O Sporting tinha acabado de sair daquilo que ficou conhecido pela "época do quase." E foi um milagre o Sporting ter chegado aonde chegou dadas as rupturas internas e as pressões vindas de fora daqueles que não perdoaram a Dias da Cunha ter tido a ousadia de apontar os "rostos do sistema", situações que vulnerabilizaram o balneário e, alegadamente, terão condenado o início da temporada seguinte.



A não renovação dos contratos a Pedro Barbosa e a Rui Jorge, com a saída dos jogadores pela porta pequena também nada ajudou a melhorar o clima interno.



O alvo da contestação não era só Dias da Cunha. Paulo de Andrade, foi indicado por Soares Franco, e José Peseiro, treinador, tinham sobre eles uma grande pressão. Curiosamente, Soares Franco que havia proposto a entrada de Andrade para administrador-delegado da SAD veio, em carta dirigida a Dias da Cunha, pedir a sua saída por achar que Paulo de Andrade não tinha condições para desempenhar a função.

José Peseiro, inocentemente, assumiu a pasta das contratações e Rui Meireles, então director financeiro, substituiu Soares Franco na SAD. Vieram, por alegada indicação de Peseiro, os jogadores: Deivid, avançado do Santos, Wender, ala do Braga, João Alves, médio do Braga, Edson, defesa do Leiria e Tonel, defesa do Marítimo. Foram gastos cerca de 10 milhões de euros, envolvendo diversos empresários, com Meireles a assumir que, diariamente, falava com Freitas. Dos valores pagos há a destacar os 2,5 milhões por metade do passe de João Alves.



A época começou em grande turbulência, com maus resultados na Liga e a eliminação da Champions, aos pés da Udinese, e a saída precoce da Taça UEFA perante os suecos do Halmstad. O ambiente era de grande pressão e contestação. Os insultos no estádio a Dias da Cunha, Peseiro e Andrade acentuavam-se. As notícias davam conta de um completo desvario interno. Por exemplo, o abandono, por parte de alguns responsáveis, da equipa em Paços de Ferreira. Paulo Andrade caiu numa terrível armadilha que o aniquilou, completamente, como dirigente.



Ao intervalo do jogo, o Sporting perdia por 2-0, Rui Meireles, então administrador da SAD, a chefiar a delegação leonina onde eu me encontrava, convidou os presentes a sair uns minutos antes do jogo terminar para "evitar o azedume dos adeptos." Só fiquei eu e Isabel Trigo Mira. À noite, na TVI, apareciam imagens do Jeep de Meireles, mas a informação era de que Paulo Andrade tinha abandonado a equipa!



Após a eliminação na UEFA, seguiu-se o encontro com a Académica, em Alvalade. O Sporting perdeu por 1-0. Foi o fim da linha. Dias da Cunha não aceitava mandar Peseiro embora e por isso, sentindo que não havia volta a dar, saiu juntamente com o técnico e com Paulo Andrade.



Para não deixar o poder num vazio, Dias da Cunha entregou a pasta a Filipe Soares Franco que, de acordo com Dias da Cunha, assumiu que conduziria o clube a eleições e não se candidataria. Depois foi o que se sabe com o antigo presidente a assumir que bem estava arrependido de ter entregue o poder a Franco.



Dias da Cunha lutou, durante 6 épocas, para que os adversários respeitassem e levassem o Sporting a sério. Num tempo de grande pressão interna - muito maior que de fora - entregou o clube aqueles que nunca o apoiaram, publicamente, na sua luta contra o sistema. Fê-lo de boa fé mas, infelizmente, o resultado está à vista. Pouco património, falta de respeito de adversários e de outros agentes desportivos, desencanto dos adeptos, um passivo cada vez maior e aquilo que ainda é mais assustador: falta de esperança num futuro a condizer com a grandeza do SPORTING.



Outras "estórias" há para contar, a seu tempo.



Carlos Severino